O discurso econômico sobre o Bitcoin toma um rumo fundamental

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A possível recessão nos EUA e as nuances no discurso de grandes atores institucionais e midiáticos estão devolvendo ao Bitcoin um lugar central na narrativa financeira.

A Estagflação Traz o Bitcoin de Volta ao Centro do Debate Financeiro

Por estagflação entende-se um evento financeiro em que há uma inflação alta de forma constante e, paralelamente, um progresso econômico muito precário. Inclusive, pode-se falar de uma recessão econômica, dependendo da gravidade do caso. De fato, esse fenômeno permite que coexistam alta inflação e também uma alta taxa de desemprego, apesar de a Curva de Phillips estabelecer que elas mantêm uma relação inversa.

A diminuição do ritmo da evolução econômica nos Estados Unidos está estreitamente associada a uma baixa no mercado de trabalho e a reduções nos gastos do consumidor. Todos esses fatores foram exacerbados pela pandemia, por diferentes situações de cunho geopolítico e, adicionalmente, pelo grande ajuste tarifário feito pelo presidente americano, Donald Trump, no início de abril deste ano.

Segundo informações destacadas pela Coindesk, para o primeiro trimestre de 2025 e o início do segundo:

  • O PIB dos EUA foi de -0,3% em relação aos 0,2% que a entidade governamental havia estimado.
  • Houve uma diminuição de 5% no aumento do crescimento do PIB devido à pouca equidade entre importações e exportações.
  • Pela primeira vez desde 2022, o PIB foi reduzido pelos gastos públicos.
  • Estimava-se que o índice de preços PCE subjacente tivesse uma alta de 3,1%; entretanto, atingiu o valor de 3,5%.

A soma de todas essas vertentes desencadeou uma queda abrupta das ações dos EUA: o S&P 500 caiu 1,5% e o Nasdaq com uma baixa de 2%.

Quanto aos dados de emprego da ADP para o mês de abril passado, houve a geração de pouco mais de 60.000 vagas de trabalho, o que sinaliza o aumento mais pobre nos últimos 9 meses.

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Executivos, Bancos e Mídia Reavaliam Sua Postura sobre o BTC

Devido ao aumento da tensão geopolítica, à queda do dólar e à tensão presente sobre o Federal Reserve dos EUA, Gabe Selby e Sui Chung, da Kraken, expõem que o Bitcoin se catapulta nos portfólios institucionais como um ativo estrutural. “O Bitcoin, e as criptomoedas em geral, estão sendo cada vez mais vistos como componentes estruturais dos portfólios modernos, especialmente por parte de investidores que buscam resiliência em meio à instabilidade fiscal”, afirmou Selby para a Cointelegraph.

Por outro lado, finalizando o mês de abril de 2025, o holding financeiro JPMorgan concluiu com sucesso uma fase piloto de execução operacional com criptomoedas, tudo isso com o objetivo de ser mais inclusivo quanto à sua carteira de clientes.

Além disso, em 2 de maio de 2025, o JPMorgan realizou uma conferência focada em ativos digitais e a CEO de Consumer & Community Banking do JPMorgan Chase, Marianne Lake, expôs que havia mais interesse em criptomoedas por parte dos clientes e que o investimento necessário em infraestrutura estava sendo feito para poder atender à demanda de forma segura e que se adequasse às diferentes normativas.

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O Ponto de Virada: Como 2025 Marca o Retorno do Bitcoin como Ativo Macro

De acordo com o Índice de Preços ao Consumidor (IPC), do Bureau of Labor Statistics (BLS) dos EUA, a inflação nos EUA teve oscilações consideráveis no ano de 2025:

  • Fevereiro: 2,8% — 3,1% (subjacente)
  • Março: 2,4% — 2,8% (subjacente)
  • Abril: 2,3% — 2,8% (subjacente)

Por sua vez, segundo o Bureau of Economic Analysis (BEA), o Índice de Preços de Despesas de Consumo Pessoal (PCE) entre fevereiro e março de 2025 foi de 2,7% e 2,3% respectivamente. Assim como o IPC, ele está acima dos 2% da Reserva Federal nos primeiros meses de 2025, e isso é um elemento importante a ser levado em consideração na formulação da estrutura monetária.

Adicionalmente, no primeiro trimestre do ano corrente, o PIB real dos EUA teve uma queda de 0,3%, que se refletiu na diminuição dos gastos públicos e no aumento das importações.

Com tudo o que ocorreu, o JPMorgan considera que o impulso que o Bitcoin está tendo neste momento se deve ao fato de o ouro não estar em seu melhor momento. A esse respeito, o JPMorgan compartilhou uma nota, publicada pelo The Block na última quarta-feira, 14 de maio de 2025, na qual afirmou: “Entre meados de fevereiro e meados de abril, o ouro estava subindo às custas do Bitcoin, enquanto nas últimas três semanas temos observado o contrário, ou seja, o Bitcoin subindo às custas do ouro”.

Por sua vez, como elementos que somam ao Bitcoin, segundo a Coindesk, a Strategy tem um plano de arrecadação de mais de US$ 84 bilhões em compras de Bitcoin até o ano de 2027, com um investimento de quase 570 mil BTC.

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De Wall Street a Washington: O Novo Mapa de Narrativas sobre o BTC

Nos últimos meses, os EUA transformaram-se em um terreno onde bancos, meios de comunicação, política monetária e até a aceitação de novos ativos digitais se enfrentam, com o Bitcoin assumindo a liderança. Justamente pela situação inflacionária que envolveu os Estados Unidos e a postura do Federal Reserve diante dela, despertou-se um maior interesse por moedas alternativas como o Bitcoin.

Por sua vez, de acordo com a declaração do CEO do JPMorgan, Jamie Dimon, publicada na AInvest, o setor bancário tradicional está deixando de ser tão cauteloso e passando a ser mais ativo nos espaços onde se aposta em ativos digitais. Tudo isso se deve, principalmente, à solicitação dos clientes.

Os principais meios financeiros estão apresentando uma cobertura mais matizada e profunda dos ativos digitais, explorando tanto os riscos quanto o potencial. Além disso, os meios dedicados à área financeira estão mostrando as informações sobre os ativos digitais de forma mais suavizada e ampla, o que prepara o terreno para uma melhor adaptação dos criptoativos ao sistema financeiro tradicional.

A forma como os meios de comunicação têm transformado a maneira como se referiam ao Bitcoin desde 2020, em comparação com a forma como o fazem hoje, variou, e isso demonstra que há evolução, apesar de essa criptomoeda não estar isenta de ser “volátil”.

Bitcoin para a mídia em 2020: “Ativo volátil”, “Bolha especulativa” Bitcoin para a mídia em 2025: “Reserva de Valor Digital”, “Ativo com Fundamentos Crescentes”, “Parte da Evolução do Sistema Financeiro”, “Ativo Sensível à Política Macroeconômica”.

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Por Que o Bitcoin Reaparece como “Ativo Refúgio” nos Círculos Tradicionais?

Se há algo que diferencia o Bitcoin das moedas tradicionais, é que ele opera em um sistema totalmente descentralizado com uma oferta limitada, o que impede a inflação desproporcional e qualquer tipo de manipulação por parte de uma entidade governamental. Além disso, por não estar diretamente ligado ao sistema bancário tradicional, permite a diversificação de carteira em momentos de crise.

Por sua vez, algo que também permite que o Bitcoin reapareça como ativo refúgio é a preocupação com a inflação latente, segundo analistas, que tem se acentuado devido a diversos eventos geopolíticos e políticas financeiras. Isso gerou desconfiança no governo e no sistema bancário tradicional e levou à busca por meios alternativos.

Além disso, a Chainalysis aponta que a legitimidade do Bitcoin aumentou graças à criação de produtos econômicos com regulação, como os ETFs de Bitcoin, bem como ao aumento da aceitação institucional. Agora, o Bitcoin é analisado com uma lente macroeconômica e não com o objetivo de ser categorizado como especulação, segundo analistas.

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Mudanças Sutis, Sinais Fortes: Assim Se Move a Narrativa Institucional

A forma como se fala sobre o Bitcoin em diferentes cenários tem tido variações sutis; no entanto, são profundas em relação à linguagem e às diferentes ações e estratégias manejadas no nível midiático e das instituições de cunho econômico-financeiro.

Quanto à linguagem, anteriormente a mídia focava quase que exclusivamente nas oscilações de preço do Bitcoin; ou seja, em sua volatilidade e seu potencial especulativo. Em contrapartida, atualmente, pelo menos até maio de 2025, observam-se manchetes com linguagem em que o Bitcoin é visto como parte da política econômica e monetária global.

No âmbito institucional, as ações se mostram muito mais concretas: segundo relatórios da CoinShares, o Bitcoin está fazendo parte das análises estratégicas e de investimento de grandes bancos e gestoras no que diz respeito à oferta de produtos associados e fundos. De fato, uma prova disso é que em 2024 e no decorrer de 2025 houve aprovação e fluxo de capital direto para os ETFs Spot de Bitcoin nos EUA.

Não se tratou de uma mudança abrupta, mas sim de uma transição tênue e sustentada que permitiu a aceitação e a evolução do Bitcoin nos estratos financeiro, institucional e midiático. Já lhe é dado um espaço e uma cobertura em nível editorial mais favorável e cautelosa, o que indica que ele ganhou terreno.

A estagflação nos EUA, juntamente com fatores geopolíticos, propiciou a reconsideração do Bitcoin por instituições e meios de comunicação como um ativo estrutural e refúgio. Aos poucos, a narrativa e a abordagem editorial se transformaram, deixando de lado o Bitcoin destacado por sua volatilidade e caráter especulativo e realçando-o por sua característica de ser uma “Reserva de Valor Digital“, além de seu espaço conquistado no terreno macroeconômico. O Bitcoin tem hoje mais aceitação, respeito e posicionamento no setor bancário, nas instituições e na mídia.

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